Há verbas de cerca de R$ 1,2 bilhão já aprovadas em editais que precisam ser liberadas para salvar ao menos parte dos 300 mil empregos do setor, escreve Victor Lopes
O audiovisual brasileiro gera cerca de 300 mil empregos, envolve mais de 13 mil empresas e injeta em torno de R$ 25 bilhões na nossa economia anualmente. Somos um setor maior que o do turismo e que gera mais empregos que o automobilístico.
Assim, sugiro um debate proativo e emergencial buscando a preservação de uma cadeia de milhares de empregos e a permanência de um mercado dinâmico e essencial para o país. Em tempos de desemprego elevado e condições econômicas agravadas por uma pandemia global, a indústria audiovisual pode dar uma contribuição decisiva para o momento presente e para a retomada social e econômica que nos desafiará depois da crise.
Considerando que os recursos já aprovados em editais públicos, com resultados publicados no Diário Oficial e alocados em banco regional, somam valores não contingenciados que beiram R$ 1,2 bilhão, conclamo a Ancine, TCU, e outros órgãos públicos competentes a levar em consideração a gravidade do momento, e agir conjuntamente com o mercado em defesa da indústria nacional.
Com o pico da pandemia previsto entre abril e setembro, a liberação imediata desses recursos possibilitaria a execução das fases iniciais de qualquer realização audiovisual. Os projetos desenvolvidos nestes meses estariam aptos a entrar em produção até o fim do ano e abririam a possibilidade de uma retomada consistente para um mercado paralisado.
Nesse processo, as produtoras, assim como seus parceiros de mercado — canais de TV aberta e fechada, empresas de streaming, distribuidoras, exibidores e órgãos públicos competentes —, podem trabalhar juntos em procedimentos inovadores para potencializar as suas atividades. Precisaremos pensar e agir logo, e enumero abaixo algumas propostas, abertas a sugestões e correções de todas as partes envolvidas.
1) Desenvolvimento de projetos: início dos trabalhos para as áreas de produção, direção, roteiro e administração por um período de três a quatro meses.
2) Pré-produção e produção: a partir do planejamento realizado na fase de desenvolvimento (30 dias), as produtoras definiriam as equipes técnicas e fornecedores de cada projeto, que inclui setores como locação de equipamentos, alimentação e transporte, entre outros. A partir daí, todos seriam convocados a assumir contratos de prestação de serviços com adiantamento de parte de seus pagamentos. A maioria das produtoras trabalha com parcerias sólidas, muitas de longa duração, e esta medida garantiria a confiança e solidez necessária para atravessar a crise.
3) Pós-produção: Negociação dos prazos estabelecidos pela Ancine para liberação dos custos de finalização e distribuição dos projetos a fim de incluir os profissionais, fornecedores e distribuidoras nos mesmos moldes da produção.
Como diretor, roteirista, produtor, professor e consultor, assumo o audiovisual brasileiro como uma das maiores paixões e razões da minha vida. Assim, conto com a atenção e compreensão de todos para esta reflexão, e espero que ela venha a se somar a todos os esforços de meus colegas de ofício e à lucidez, pragmatismo e senso cívico dos órgãos públicos envolvidos.
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