O paulistano Diego Imai e o carioca Daniel Jesus Vignolli filmaram iniciativas que levam cuidados médicos a regiões desassistidas no Pará e na Índia
SÃO PAULO – Quando o paulistano Diego Imai e o carioca Daniel Jesus Vignolli inscreveram seus curtas no Festival “Saúde para todos”, da Organização Mundial da Saúde (OMS), em janeiro, começavam a aparecer as primeiras notícias sobre o novo coronavírus na China. Já a notícia de que estavam entre os 15 finalistas da categoria “Reportagens”, no final de março, pegou os dois de quarentena: Imai, em São Paulo, e Vignolli, em Sydney, na Austrália.
O festival vai premiar três curtas metragens nas categorias “Reportagens”, “Animações” e “Vídeos sobre profissionais de enfermagem e parteiras” durante a Assembleia Mundial da Saúde, a ser realizada em maio, em Genebra, na Suíça (dependendo da evolução da pandemia, a premiação pode ser remarcada para outubro). Ao todo, foram inscritos 1.265 filmes de 119 países. Os vencedores de cada uma das categorias vão receber US$ 10 mil. Entre os jurados, está o ator e cineasta Wagner Moura. O “Saúde para todos” é o primeiro festival cinematográfico da OMS, que encabeça a luta contra a Covid-19.
– Se você viaja pelo mundo, vê histórias importantes sobre saúde em todo lugar – disse Imai ao GLOBO. – É incrível que o festival dê a oportunidade para que elas sejam contadas.
Comunidades isoladas no Pará
No curta “Beatriz”, Imai acompanha equipes médicas do projeto Saúde Solidária, que atendem comunidades ribeirinhas isoladas no Pará. De Belém, os médicos e ele viajam cerca de 25 horas de barco até a região de Portel, a 270 quilômetros da capital paraense. O filme acompanha a sorridente Beatriz Lobato dos Santos, de 8 anos, que aparece saltitando feliz e jogando bola com amigos na pequena ilha de Iracema. A menina nasceu com uma deformação nos pés, que talvez não aguentem mais o peso de seu corpo quando ela crescer, impedindo-a de andar. As famílias ribeirinhas, como a de Beatriz, levam duas horas de barco para chegar até os médicos que aportam na ilha.
– Em 2017, um amigo me contou que a mãe dele coordenava um grupo de voluntários no Pará e disse que eu deveria entrar em contato, porque meu trabalho com imagens seria uma adição interessante ao projeto – conta Imai. – Em 2018, conheci a Bia e a família dela. Em 2019, voltei determinado a contar essa história.
O filme foi gravado em julho do ano passado. Imai queria que seu filme ajudasse os médicos que auxiliam Beatriz a contarem sua história. Deu certo. Em setembro, com a ajuda deles, a menina conseguiu consulta com especialistas. Está na fila de um hospital de Belém para fazer a cirurgia corretiva nos pés e poder continuar correndo alegre pela ilha onde nasceu.
– Foi uma vitória – comemora Imai. – Quando a gente trabalha junto, as coisas acontecem. Toda ajuda que conseguirmos alcançar para a Bia importa.
‘Pelé da oftalmologia’
Vignolli, o outro brasileiro na disputa, sabe bem da importância da divulgação de projetos que cuidam da saúde dos mais vulneráveis. Ele trabalha na Fundação Fred Hollows, que atua na Austrália e em mais de 20 países africanos e asiáticos oferecendo cirurgias oculares para combater a cegueira. Vignolli faz vídeos para divulgar as ações da fundação e arrecadar fundos para os projetos.
Três ou quatro vezes por ano, ele viaja para registrar o trabalho de médicos como o nepalês Sanduk Ruit, protagonista do curta “Dr. Ruit: an eye health hero” (“Dr. Ruit: um herói da saúde dos olhos”, em tradução direta), que concorre ao prêmio. Ruit já devolveu a visão a mais 120 pacientes graças a cirurgias de catarata.
– O cara é o Pelé da oftalmologia e eu tento fazer o meu trabalho sem atrapalhar o craque – diz Vignolli, que acompanha Ruit em algumas viagens e filma desde cirurgias a depoimentos de pacientes curados. – Ele é tão confiante que conversa com você durante a cirurgia, pergunta se o ângulo está bom para a foto. Ele sabe da importância da divulgação para que o trabalho dele possa continuar.
Na Austrália desde 2008, Vignolli trabalhava com publicidade e vídeos corporativos antes de ingressar na Fundação Fred Hollows. Quando ainda vivia no Rio, já fazia vídeos. Mais do que ganhar o prêmio da OMS, ele quer que seus filmes mostrem que muitos problemas dos problemas de saúde que incapacitam para o trabalho são, na verdade, de fácil tratamento.
– Segundo um estudo da fundação, cada dólar gasto na prevenção da cegueira coloca outros quatro dólares na economia. Isso porque, em alguns lugares, não só o cego, mas também outra pessoa da família deixa de trabalhar para cuidar dele, geralmente uma menina que não estuda.
Imai também quer produzir conteúdo que ajude a melhorar a saúde das pessoas. Ele conta que a continuidade do Saúde Solidária está ameaçada pela epidemia de Covid-19 e que, junto com seus parceiros, está pensando em como colaborar com os ribeirinhos.
– Me interesso pelo tema da saúde e, mais ainda, por causas sociais, que devem se fortalecer depois da pandemia. Os mais vulneráveis são sempre os mais prejudicados e é importante darmos atenção maior a eles – diz.
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