As informações são da análise do Ipam e MapBiomas a partir de dados de desmatamento observados no Matopiba
De acordo com uma pesquisa do Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (SAD Cerrado) realizada pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e do MapBiomas e divulgada pela Agência Pública, se o desmatamento do bioma, que predomina em 87% do território tocantinense continuar seguindo o curso atual, cerca de 108 municípios correm o risco de ficar sem água. O levantamento destaca ainda que 74,5% do desmatamento do bioma ocorreu nas cinco bacias hidrográficas na região do Matopiba (polígono entre as fronteiras de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).
O estudo detalha que o desmatamento da vegetação nativa nas bacias dos rios Araguaia, São Francisco, Parnaíba, Tocantins e Itapecuru chega a 599.007 hectares e implica na diminuição da capacidade de partilha e filtração de água nos Estados de Maranhão, Piauí, Goiás, Bahia e Mato Grosso, além do Tocantins, que de acordo com os dados disponibilizados, ocupa a 2ª colocação em área de vegetação desmatada com 1.710,55 km², ficando atrás apenas do Maranhão com 2.281,72 km².
Ludimila Carvalho, quilombola, ativista e agente da Comissão Pastoral da Terra de Araguaína (CPT-AT) na Defesa do Cerrado, frisa que é preciso responsabilizar os causadores diretos pela destruição do bioma e pela violência no campo, grileiros, latifundiários, empresários e financiadores do desmatamento e até mesmo o Naturatins, além do próprio Estado como um todo pela omissão na defesa do Cerrado, cujo impacto afetará a nível nacional. “Esses números por si só são desesperadores, mas não é só sobre números, é sobre pessoas, povos do campo e da cidade, é sobre a biodiversidade, é sobre a água que bebemos e água é vida”, reforça.
A ativista reforça que o problema não está no futuro, mas no presente, sendo urgente compreender que os impactos climáticos, o envenenamento e o desabastecimento de água causados pela destruição do Cerrado já vem se agravando há algum tempo. “Me preocupa o quanto estamos expostos enquanto comunidades tradicionais, seja as comunidades expulsas violentamente de seus territórios, como a minha, como as que ainda resistem no que ainda resta de seus territórios. Nossos povos do Cerrado estão adoecidos, estão sendo mortos pela expansão das políticas e projetos de morte promovidas pelo agronegócio”, enfatiza.
“Precisamos lutar juntos, quilombolas, indígenas, ribeirinhos, assentados, posseiros, acampados, os povos cerradeiros. Resistir é a palavra de ordem. Denunciar também. Mas o que tem que ser feito urgentemente é paralisar quem está destruindo, essa é a única solução, o Cerrado é conhecido pela sua capacidade de se recuperar, se recompor, mas isso não pode ficar para amanhã, tem que ser agora. E para além disso, nossos povos existem, estamos organizados e não vamos recuar”, finaliza.
Mais dados alarmantes
Ainda, de acordo com uma pesquisa realizada com o apoio da instituição membro da Coalizão Vozes do Tocantins por Justiça Climática, Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) e publicado na revista científica internacional Sustainability, o impacto do desmatamento pode gerar uma perda de água nas bacias hidrográficas do bioma em 23.653 m³/s nos próximos 28 anos. Isto equivale a 34% dos recursos totais e cujo volume de água corresponde à vazão de oito rios Nilo.
“O desmatamento para agricultura em larga escala, que demanda intensa irrigação, altera o ciclo hidrológico de forma que diminui vazão dos rios. Os principais problemas derivados das mudanças do clima são a evapotranspiração potencial e a chuva. Estamos tendo chuvas mais concentradas, em períodos mais curtos, e os períodos de seca estão sendo mais longos”, explica o doutor em Ciências Florestais e diretor do Instituto Cerrados, Yuri Salmona.
“Como as chuvas estão concentradas em períodos menores, infiltra menos água no aquífero subterrâneo e a disponibilidade hídrica para o período seco diminui. Então, a chuva não está diminuindo na maior parte das áreas analisadas, ela está tendo maior dificuldade de infiltrar no aquífero. Do ponto de vista climático, é muito grave o aumento da radiação solar, o que implica mais evapotranspiração potencial e menos água no solo disponível para escorrer pelos rios”, destaca o pesquisador.
O estudo conclui que, se as taxas de desmatamento não tiverem uma redução drástica, a escassez hídrica será uma realidade mais comum em menos de 30 anos, o que afetará a própria agricultura, a produção de energia elétrica, a biodiversidade e o abastecimento de água das populações, especialmente durante as estações secas.
Vozes do Tocantins
A Coalizão é composta pelas organizações: Associação da Comunidade Remanescente de Quilombo Kalunga do Mimoso – Arraias (AKMT), Associação Centro Cultural Kàjre (povo Krahô), Associação Pyka Mex (povo Apinajé), Colônia de Pescadores/as de Araguacema-TO (Copesca), Cooperativa de Trabalho, Prestação de Serviços Assistência Técnica e Extensão Rural (Coopter), Escola Família Agrícola Bico do Papagaio Padre Josimo (EFA – Esperantina), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST – Tocantins), Associação Onça D´água de Apoio às Unidades de Conservação, Universidade Federal do Tocantins (UFT) – Campus Arraias, Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) e Núcleo de Estudos Rurais, Desigualdades e Sistemas Socioecológicos (Neruds).Coalizão Vozes do Tocantins alerta para risco de desabastecimento de água em 108 cidades do Estado
As informações são da análise do Ipam e MapBiomas a partir de dados de desmatamento observados no Matopiba
De acordo com uma pesquisa do Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (SAD Cerrado) realizada pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e do MapBiomas e divulgada pela Agência Pública, se o desmatamento do bioma, que predomina em 87% do território tocantinense continuar seguindo o curso atual, cerca de 108 municípios correm o risco de ficar sem água. O levantamento destaca ainda que 74,5% do desmatamento do bioma ocorreu nas cinco bacias hidrográficas na região do Matopiba (polígono entre as fronteiras de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).
O estudo detalha que o desmatamento da vegetação nativa nas bacias dos rios Araguaia, São Francisco, Parnaíba, Tocantins e Itapecuru chega a 599.007 hectares e implica na diminuição da capacidade de partilha e filtração de água nos Estados de Maranhão, Piauí, Goiás, Bahia e Mato Grosso, além do Tocantins, que de acordo com os dados disponibilizados, ocupa a 2ª colocação em área de vegetação desmatada com 1.710,55 km², ficando atrás apenas do Maranhão com 2.281,72 km².
Ludimila Carvalho, quilombola, ativista e agente da Comissão Pastoral da Terra de Araguaína (CPT-AT) na Defesa do Cerrado, frisa que é preciso responsabilizar os causadores diretos pela destruição do bioma e pela violência no campo, grileiros, latifundiários, empresários e financiadores do desmatamento e até mesmo o Naturatins, além do próprio Estado como um todo pela omissão na defesa do Cerrado, cujo impacto afetará a nível nacional. “Esses números por si só são desesperadores, mas não é só sobre números, é sobre pessoas, povos do campo e da cidade, é sobre a biodiversidade, é sobre a água que bebemos e água é vida”, reforça.
A ativista reforça que o problema não está no futuro, mas no presente, sendo urgente compreender que os impactos climáticos, o envenenamento e o desabastecimento de água causados pela destruição do Cerrado já vem se agravando há algum tempo. “Me preocupa o quanto estamos expostos enquanto comunidades tradicionais, seja as comunidades expulsas violentamente de seus territórios, como a minha, como as que ainda resistem no que ainda resta de seus territórios. Nossos povos do Cerrado estão adoecidos, estão sendo mortos pela expansão das políticas e projetos de morte promovidas pelo agronegócio”, enfatiza.
“Precisamos lutar juntos, quilombolas, indígenas, ribeirinhos, assentados, posseiros, acampados, os povos cerradeiros. Resistir é a palavra de ordem. Denunciar também. Mas o que tem que ser feito urgentemente é paralisar quem está destruindo, essa é a única solução, o Cerrado é conhecido pela sua capacidade de se recuperar, se recompor, mas isso não pode ficar para amanhã, tem que ser agora. E para além disso, nossos povos existem, estamos organizados e não vamos recuar”, finaliza.
Mais dados alarmantes
Ainda, de acordo com uma pesquisa realizada com o apoio da instituição membro da Coalizão Vozes do Tocantins por Justiça Climática, Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) e publicado na revista científica internacional Sustainability, o impacto do desmatamento pode gerar uma perda de água nas bacias hidrográficas do bioma em 23.653 m³/s nos próximos 28 anos. Isto equivale a 34% dos recursos totais e cujo volume de água corresponde à vazão de oito rios Nilo.
“O desmatamento para agricultura em larga escala, que demanda intensa irrigação, altera o ciclo hidrológico de forma que diminui vazão dos rios. Os principais problemas derivados das mudanças do clima são a evapotranspiração potencial e a chuva. Estamos tendo chuvas mais concentradas, em períodos mais curtos, e os períodos de seca estão sendo mais longos”, explica o doutor em Ciências Florestais e diretor do Instituto Cerrados, Yuri Salmona.
“Como as chuvas estão concentradas em períodos menores, infiltra menos água no aquífero subterrâneo e a disponibilidade hídrica para o período seco diminui. Então, a chuva não está diminuindo na maior parte das áreas analisadas, ela está tendo maior dificuldade de infiltrar no aquífero. Do ponto de vista climático, é muito grave o aumento da radiação solar, o que implica mais evapotranspiração potencial e menos água no solo disponível para escorrer pelos rios”, destaca o pesquisador.
O estudo conclui que, se as taxas de desmatamento não tiverem uma redução drástica, a escassez hídrica será uma realidade mais comum em menos de 30 anos, o que afetará a própria agricultura, a produção de energia elétrica, a biodiversidade e o abastecimento de água das populações, especialmente durante as estações secas.
Vozes do Tocantins
A Coalizão é composta pelas organizações: Associação da Comunidade Remanescente de Quilombo Kalunga do Mimoso – Arraias (AKMT), Associação Centro Cultural Kàjre (povo Krahô), Associação Pyka Mex (povo Apinajé), Colônia de Pescadores/as de Araguacema-TO (Copesca), Cooperativa de Trabalho, Prestação de Serviços Assistência Técnica e Extensão Rural (Coopter), Escola Família Agrícola Bico do Papagaio Padre Josimo (EFA – Esperantina), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST – Tocantins), Associação Onça D´água de Apoio às Unidades de Conservação, Universidade Federal do Tocantins (UFT) – Campus Arraias, Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) e Núcleo de Estudos Rurais, Desigualdades e Sistemas Socioecológicos (Neruds).
Fonte:Ascom Coalizão Vozes do Tocantins
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