08 de março: As mulheres que lutam pela Amazônia

Ilustração: amazonia.org.br

O Dia Internacional da Mulher, foi criado em homenagem a luta das mulheres por direitos, igualdade, liberdade e reconhecimento. Também para lembrar que muitos problemas ainda precisam ser resolvidos: a violência, o feminicídio, e no caso da Amazônia, os problemas agrários, a disputa por terra, a falta de reconhecimento do conhecimento tradicional, grilagem, invasão de territórios indígenas, reconhecimento de profissões tradicionais, entre outros.

Por isso, o site Amazônia.org.br aproveita esta data para prestigiar e contar um pouco sobre o trabalho e a luta das mulheres desta região, que são fundamentais para a construção de reconhecimento, na luta por direitos, na promoção do desenvolvimento sustentável e sobrevivência dos povos que habitam a floresta.

Confira abaixo alguns nomes:

Creuza Assoripa Umutina

Creuza sempre é descrita como uma mulher determinada e que sempre sonhou em trazer melhorias para seu povo. Conquistou o respeito e admiração por ter se consagrado a melhor atiradora de arco e flecha, esporte na qual só contava com a presença de homens. Isso fez com que em 2004 ela fosse eleita como a primeira mulher Cacique brasileira na aldeia Umutina, no Mato Grosso.

Como líder ela conquistou avanços para a educação, assegurando Ensino Fundamental e Médio para a aldeia, conseguiu levar energia elétrica e melhorias na área de saúde através de parceria com a Funasa que garantiu atendimento médico in loco.

Mary Allegretti

Foto: Ashoka

É antropóloga e trabalha na Amazônia desde 1978. Suas pesquisas tem foco nos movimentos sociais, nas políticas públicas e reservas extrativistas. Foi ela quem abriu os caminhos no exterior para o líder seringueiro Chico Mendes. Trabalharam juntos divulgando a luta e as propostas do seringueiro no Brasil e no mundo desde 1981 a 1988. Foi Secretária de Coordenação da Amazônia do Ministério do Meio Ambiente de 1999 a 2003.

Ganhou os seguintes prêmios: Medalha de Meio Ambiente da Better World Society em 1989; Prêmio Global 500 da ONU, em 1990; Medalha de Ouro do WWF em 1991, Prêmio Chico Mendes de Florestania em 2005 e Prêmio Ford de Conservação Ambiental em 2008.

Dorothy Stang

Foto: Wikipédia

A Irmã Dorothy ficou conhecida nacional e internacionalmente por conta de sua participação em projetos de desenvolvimento sustentável, esteve presente na Amazônia desde a década de 70, atuando junto aos trabalhadores rurais da Região do Xingu. Buscava a geração de emprego e renda com projetos de reflorestamento em áreas degradadas, mantinha intensa agenda de diálogo com lideranças camponesas, políticas e religiosas, na busca de soluções duradouras para os conflitos relacionados à posse e à exploração da terra na Região Amazônica.

Foi assassinada aos 73 anos de idade, no município de Anapu, no Pará, após receber diversas ameaças de morte. Pouco antes de ser assassinada declarou: “Não vou fugir e nem abandonar a luta desses agricultores que estão desprotegidos no meio da floresta. Eles têm o sagrado direito a uma vida melhor numa terra onde possam viver e produzir com dignidade sem devastar.”

Geraldina Canuto

Geraldina Canuto era a matriarca da família Canuto, no sul do Pará e trabalhadora rural. Faleceu em outubro de 2009. Ela era viúva de João Canuto, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais em Rio Maria, que foi executado em 1985. Na década de 1990, D. Geraldina perdeu os filhos José e Paulo.

Depois da morte de seu marido surgiu necessidade de assumir o seu lugar na direção sindical. Com coragem e firmeza enfrentou o poder do latifúndio. Junto com sua filha Luzia, Dona Geraldina ajudou a criar o Comitê Rio Maria, que luta contra a impunidade dos assassinatos contra trabalhadores rurais.

A luta de Geraldina por justiça foi registrada no livro Viúvas da Terra – Morte e Impunidade nos rincões do Brasil, do jornalista Kléster Cavalcanti, e no documentário Mulheres, Mães e Viúvas da Terra: Sobrevivência da Luta, Esperança de Justiça, dirigido por Evandro Medeiros.

Marina Silva

Foto: José Cruz/ Agência Brasil

Como ela mesmo disse “na luta desde pirralha”, a ex-ministra do Meio Ambiente, que durante sua gestão (2003-2011) teve reconhecimento nacional e internacional. Na época, o ritmo de desmatamento da Amazônia caiu 57% em apenas três anos.

Tornou-se uma das principais vozes da Amazônia sendo respeitada internacionalmente e eleita pelo jornal britânico The Guardian como uma das 50 pessoas que podem salvar o planeta. Sendo a única latino-americana a ter o destaque. Em 2007 conquistou o principal prêmio da ONU na área ambiental o “2007 Champions of the Earth”.

Sua história de lutas começou no seringal. Ela cortou seringueiras e plantou roçados. Caçou, pescou e ajudou o pai a quitar as dívidas com o dono do seringal. Aos quatorze anos só conhecia as quatros operações básicas de matemática, mas formou-se em História pela Universidade Federal do Acre, em 1985.

Elenira Mendes e Ângela Mendes

Elenira e Ângela são filhas do seringueiro e ambientalista Chico Mendes, assassinado em 1988. Ele lutou a favor dos seringueiros da Bacia Amazônica, cuja subsistência dependia da preservação da floresta e das seringueiras nativas. Seu ativismo lhe trouxe reconhecimento internacional, ao mesmo tempo em que provocou a ira dos grandes fazendeiros locais que o assassinaram.

Elenira seguiu o conselho dado por seu pai, dois dias antes de sua morte, ele pediu que se morresse, queria que ela se tornasse advogada para defender “as pessoas da floresta”. Hoje ela está a frente da ONG Viva Chico Mendes.

Sua irmã Angela Mendes, também está seguindo o legado de Chico, recentemente ela, juntamente com o Cacique Raoni, lançaram um manifesto em defesa dos povos da floresta, cobrando do Governo Bolsonaro um maior compromisso com o meio ambiente e seus defensores.

Sônia Guajajara

Foto: Mídia Ninja

Nascida na Terra Indígena Araribóia, no Maranhão, Sônia Guajajara é líder indígena nacional e sua militância em ocupações e protestos começou na Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas no Maranhão (COAPIMA) e levou-a à coordenação executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), passando ainda, antes disso, pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB).

Sônia tem voz no Conselho de Direitos Humanos da ONU e já levou denúncias às Conferências Mundiais do Clima (COP) e ao Parlamento Europeu. Tem atuado ativamente denunciando a alta dos desmatamento e queimadas na Amazônia e leis que dificultam o acesso e a demarcação de terras para os povos indígenas.

A Terra Indígena dos Guajajara tem sofrido com constantes invasões de madeireiros ameaçando também os indígenas isolados Awá que também vivem na região. Há vários anos os Guardiões da Amazônia, grupo de indígenas Guajajara que arriscam suas vidas combatendo a extração ilegal de madeira, vêm realizando patrulhas em seu território no Maranhão, mas pelo menos três Guardiões já foram assassinados.

Quebradeiras de coco do babaçu

Foto: Carolina Motoki/ Repórter Brasil

Uma profissão passada de geração em geração, onde as mulheres são o eixo central. As quebradeiras de coco do babaçu, presentes nos estados do Pará, Tocantins, Maranhão e Piauí, lutam pelo livre acesso aos babaçuais e buscam pelos direitos territoriais como comunidades tradicionais.

Em 2008, a Lei do Babaçu Livre foi aprovada, permitindo assim a conservação das palmeira e garantindo por lei o livre acesso aos babaçuais e o uso comunitário, mesmo que dentro de propriedades privadas. A luta é contra interesses de fazendeiros, pecuaristas e muitas vezes contra o próprio governo que entende como desenvolvimento o ato de colocar e apoiar grandes empresas na região sem avaliar os impactos sociais, econômicos ou ambientais.

Mulheres Ameaçadas

Muitas dessas mulheres são intimidadas, perseguidas e até mesmo ameaçadas de morte. Em 2013 a Pública lançou uma série de reportagens chamada “Elas, marcadas para morrer”, onde foi apresentada a história de dez mulheres cujas vidas foram ameaçadas por lutarem pelos seus direitos e pela preservação da Amazônia.

Uma das histórias é a de “Nicinha” liderança no Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Rondon do Pará, onde devido aos assassinatos, os homens não quiseram assumir nenhum cargo diretivo, apenas mulheres compõem a executiva no sindicato.

Anos depois a situação não apresenta mudanças. Diversas matérias são feitas mostrando história de mulheres ameaçadas, mulheres que não se calam e que lutam por suas comunidades.

Há milhares de outras mulheres que lutam dia-a-dia para conquistar seu espaço e continuar fazendo de uma das regiões mais importantes do mundo, uma Amazônia mais mulher, com mais igualdade e respeito.

Por Nicole Matos
Fonte: Amazônia.org.br
Edição e Ilustração: Aldrey Riechel

Sair da versão mobile