Por Raabe Andrade
Alcântara é uma cidade vizinha a São Luís do Maranhão muito conhecida por sua base de lançamento de foguetes do Programa Espacial Brasileiro. Mas além de ponto de partida para a conquista do espaço, Alcântara é também uma cidade histórica, rica em cultura e polo da produção artesanal dos quilombos da região.
A cidade fica na margem oposta à Baía de São Marcos, a pouco mais de uma hora de viagem de barco pelo mar. Alcântara atrai muitos turistas que estão conhecendo São Luís e aproveitam a ocasião para um bate e volta, ou um pernoite na cidade histórica.
Os produtos do artesanato de Alcântara são diversos: objetos de decoração em cerâmica, miniaturas das embarcações utilizadas para transporte, miniaturas dos famosos foguetes e a bebida típica da região, mas o verdadeiro carro chefe, são as peças produzidas com a fibra da palmeira do buriti. De acordo com a Associação dos Artesãos de Santa Maria, uma comunidade quilombola local, o artesanato de buriti no Maranhão é produzido principalmente por mulheres, em grupos de produção familiar.
Da palmeira ao artesanato
O buriti é uma palmeira muito comum na Amazônia e no Cerrado e seus frutos têm funções diversas, desde a medicina, à gastronomia e produtos cosméticos. Mas são as suas folhas que são utilizadas na confecção de artesanatos trançados em Alcântara.
O processo é trabalhoso. Primeiro retira-se o olho do buriti, que é a folha mais nova, localizada na parte mais alta da palmeira. Depois a fibra dessa folha é desfiada até formar um linho. Esse linho é tingido com corantes naturais extraídos de folhas, flores e frutos da região. Depois do tingimento, o linho do buriti precisa secar à sombra, para só então ser organizado em novelos e estar pronto para produção. Segundo as artesãs, todo esse processo leva cerca de 18 dias. Isso evidencia o quanto de valor agregado existe em produtos como as bolsas, as esteiras, os jogos americanos ou as almofadas produzidas pelas artesãs de Alcântara.
Nildilea Araújo, empreendedora local, ressalta que cada peça tem uma história que precisa ser contada: “Vender o artesanato não é tu vender a peça do artesanato, é tu vender a história da peça, quem tá por trás dessa peça [sic]. Então o turista ou visitante que vem aqui na lojinha, sai com uma didática, sabendo como é feito, como é manuseado, a importância dessa peça para quem fez… Então ele leva como um acessório para colocar na sua mesa, mas leva pela importância que aquela peça tem”, destaca.
Fomento e valorização
Recentemente, um projeto encabeçado por Nildilea Araújo e Mayara Rovery, juntamente com Associação Quilombola de Artesãos de Santa Maria, foi contemplado pelo Inova Amazônia do Sebrae. O objetivo do projeto é incentivar o cooperativismo e capacitar as artesãs de Santa Maria em todos os aspectos da sua cadeia de produção, desde a manufatura, até a venda.
“A ideia do projeto é a gente melhorar tanto a cadeia produtiva, quanto a valorização das mulheres, da arte e da moda local. Então a ideia é a gente trabalhar com pigmentos naturais, mantendo o produto como ele já é 100% natural, mas agregando novas cores e modelos de peças”, conta Mayara Rovery.
Mayara mora em São Paulo e trabalha no ramo da moda há muitos anos, ela conheceu o trabalho das artesãs de Santa Maria em uma viagem ao Maranhão. A expectativa é que unindo a visão do mercado da moda de Mayara e o conhecimento tradicional de Nildileia, se consiga ampliar e valorizar cada vez mais a arte de Alcântara e as mãos que as produzem. “A gente quer preservar a cultura daqui. A gente quer que essas tantas mulheres entendam o valor delas, que elas são realmente artistas e estão fazendo uma arte que além de ser única, está preservando o meio ambiente”, conclui Mayara.
Se você quiser conhecer um pouco mais sobre a cidade de Alcântara, seu artesanato e seus artistas, confira o programa completo, clicando AQUI.
Esta reportagem foi produzida com apoio do programa Diversidade nas Redações, da Énois, um laboratório de jornalismo que trabalha para fortalecer a diversidade e inclusão no jornalismo brasileiro. Confira as metodologias na Caixa de Ferramentas.
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