Por Núbia Dourado
O colapso da Ponte JK, que ligava Estreito (MA) a Aguiarnópolis (TO), marcou este Natal com uma profunda tristeza. Em meio a celebrações que deveriam simbolizar união e esperança, fomos confrontados com a dura realidade de uma tragédia que poderia ter sido evitada. Mais do que uma falha estrutural, o desabamento desta ponte, uma das principais conexões entre os estados do Norte e Nordeste, expõe as consequências devastadoras da negligência.
Relatórios do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) já alertavam, desde 2019, para o estado precário da estrutura. Classificada com nota 2 em uma escala de 5, a ponte apresentava rachaduras e desgaste visível, somados ao intenso fluxo de veículos pesados. Apesar dos sinais claros de deterioração e do alerta de especialistas, nada foi feito para prevenir o colapso. O resultado foi trágico: vidas perdidas, outras feridas, e um vazio irreparável para as famílias afetadas.
Este desastre não pode ser encarado como um evento isolado ou fruto do acaso. Ele é reflexo de um problema maior, enraizado na forma como lidamos com a infraestrutura pública no Brasil. Pontes, estradas e demais obras que sustentam nosso cotidiano muitas vezes são relegadas ao abandono, com manutenção negligenciada e prioridades deslocadas. Isso demonstra não apenas um descaso técnico, mas também ético, quando a segurança e a vida humana são colocadas em risco.
O anúncio de que responsabilidades serão apuradas pelo Ministério dos Transportes é um passo necessário, mas não suficiente. É imprescindível que essa tragédia leve a uma revisão completa das condições de nossas infraestruturas críticas. Precisamos garantir que pontes como a JK, com mais de 60 anos de uso, recebam atenção compatível com sua importância e carga operacional.
A Ponte JK era mais do que concreto e aço; ela conectava pessoas, sonhos e economias. Seu colapso, em plena época de confraternização, ressalta a urgência de tratarmos o patrimônio público com o respeito que ele merece. Que a memória dessa tragédia nos sirva de alerta para exigirmos ações concretas e uma governança comprometida com a segurança coletiva.
Como sociedade, devemos nos perguntar: até quando a negligência será normalizada? Investir em manutenção e prevenção não é um luxo, mas um dever. É inadmissível que tragédias previsíveis continuem ceifando vidas e perpetuando ciclos de luto e indignação.
Que este triste episódio não seja esquecido após os holofotes apagarem. Que ele inspire uma mudança de atitude, um compromisso renovado com a preservação de vidas e com o futuro de nossas comunidades. A dor das perdas precisa ser transformada em força para construir um Brasil mais seguro, justo e responsável.
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