Jalapão para todos: campanha promove acessibilidade a pessoas com deficiência no Jalapão

Após receber turista cadeirante sem estrutura adaptada, agência de turismo deseja adquirir cadeira anfíbia, própria para água e trilhas, e disponibilizá-la gratuitamente a clientes com deficiência de todas as agências da região

Renata Carvalho com os guias da Jalapão Expedições Ecotrip

Renata Carvalho com os guias da Jalapão Expedições Ecotrip

Por Raabe Andrade

Quanto custa ir ao Jalapão? Para a maioria das pessoas a resposta a essa pergunta começaria com um cifrão (R$). Mas para alguém com deficiência física e mobilidade limitada, quanto custa ir ao Jalapão? Para Renata Carvalho, cadeirante, foi o preço de encontrar uma agência de turismo disposta mesmo sem estrutura, o preço de um deslocamento complicado, precisando, literalmente, das mãos e dos braços de outras pessoas. Renata pagou o preço da falta de acessibilidade. Mas graças a essa expedição pioneira em 2022, agora outras pessoas com deficiência podem ter a chance de também conhecer o Jalapão. 

Jalapão inacessível

De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mais de 17 milhões de pessoas no Brasil têm algum tipo de deficiência, sejam elas físicas, mentais, visuais ou auditivas. Mas infelizmente, diversos aspectos da vida social e cotidiana não estão adaptados à vivência dessas pessoas. Das calçadas irregulares que dificultam sua mobilidade, até o acesso ao turismo e ao lazer.

E essa dificuldade de acesso não se limita apenas à ausência de rampas, equipamentos ou banheiros adaptados. Ela começa na ausência de informações sobre acessibilidade, que foi inclusive, a maior dificuldade enfrentada por Renata para conhecer o Jalapão. 

Renata não conseguiu nenhum tipo de informação online sobre como era a acessibilidade para pessoas cadeirantes no Jalapão: “O jeito que eu encontrei, já que eu literalmente não encontrei nenhuma informação a respeito, foi escrever para algumas agências. E a conversa era mais ou menos assim: ‘Oi, meu nome é Renata, sou cadeirante e quero viajar sozinha para conhecer o Jalapão. Gostaria de saber como é a acessibilidade’ ”, relata. Nesse processo, Renata obteve quatro negativas de agências de turismo até chegar à Jalapão Expedições Ecotrip. 

Uma janela se abrindo

“Quando a Renata nos ligou, eu atendi, acho que era um sábado, próximo ao almoço, o dia estava terminando e eu queria muito descansar, mas de cara, a voz doce e simpática dela já me acalmou. Ela foi clara, me disse que queria conhecer o Jalapão, mas que tinha um problema, era paraplégica e que tinha entrado em contato com outras quatro agências mas ninguém tinha topado. Isso me sensibilizou”, nos conta Henrique Abreu proprietário da Jalapão Expedições. 

Renata relembra com carinho dessa ligação: “Procurando uma agência eu tive não respostas, resposta atravessada e o Henrique me respondeu o seguinte: ‘olha, acessibilidade a gente não tem não, mas a gente ia adorar ter esse desafio’ ”. Assim como as demais, a agência de Henrique também estava limitada pela falta de estrutura adaptada, mas a equipe decidiu seguir adiante: “Conseguimos aceitar a missão por que acreditamos na proposta de inclusão”, conta Henrique. 

Desafios da expedição

Antes da viagem foram necessárias várias conversas e ajustes com a equipe, principalmente relacionados ao transporte da Renata nos atrativos do Jalapão. “A parte mais complicada foi descer o Cânion Sussuapara, subir para as Dunas… Tivemos que fazer “cadeirinha” com os braços, aquela cadeirinha que fazíamos na infância: duas crianças entrelaçam os braços e a outra senta. Em outros ela foi de mochilinha (como ela denomina), que é o nosso “subir na cagunda” ”, conta Henrique. Ele ressalta que tudo isso só foi possível graças à disposição da equipe e principalmente da Renata: “Ela é desenrolada, não tem timidez ou orgulho, e isso favorece completamente qualquer relação, em especial nessa situação de transporte atípico”. 

Outro problema foi a acessibilidade das pousadas. Renata conta de uma em específico em que ela conseguia entrar com a cadeira de rodas no banheiro, mas não conseguia acessar a área do box para banho. “Eu vi de cara que eu ia precisar de ajuda para entrar e sair do banho”, conta Renata. 

Mas nessa viagem em que quase tudo era inacessível, um fator fez toda a diferença: as pessoas. “Eu acredito que a acessibilidade começa com as pessoas. O lugar pode ter vários acessos, várias rampas, vários equipamentos, mas se as pessoas do lugar não forem acessíveis, o lugar não vai ser acessível”, afirma Renata. 

Felizmente, dessa vez ela pode contar com o apoio das pessoas: “Essa era a pousada com pior acessibilidade, mas em cima da cama tinha uma cartinha falando o quanto eles estavam felizes em me receber, pedindo desculpas pela não acessibilidade, que eles já estavam providenciando, mas que qualquer coisa que eu precisasse era só pedir ajuda, que eles estariam disponíveis. Esse é o tipo de coisa que fez o lugar, a princípio, não acessível, ganhar toda acessibilidade”. 

O Jalapão precisa ser para todos

Essa expedição só aconteceu porque, mesmo contrariando as condições materiais, várias pessoas se empenharam em torná-la possível. Durante a viagem, até mesmo pessoas que não estavam diretamente ligadas à Jalapão Expedições, como outros guias e turistas, se envolveram com a história da Renata e ajudaram a que tudo acontecesse. Tudo isso tornou a viagem ainda mais especial para Renata: “O mais especial para mim foram os encontros, as pessoas. Foi ver esse movimento que eu não esperava das pessoas se envolvendo e se questionando: por que não? O que falta para tornar o Jalapão acessível?”

Apesar de toda boa vontade das pessoas envolvidas, não podemos ignorar que a não acessibilidade do Jalapão é um problema e que exige soluções mais contundentes. Com alguns investimentos em infraestrutura o acesso de pessoas com deficiência seria muito menos penoso do que foi a viagem de Renata. 

“A acessibilidade é um item fundamental para a vida! Mas no caso de viajar e conhecer os lugares, o ideal seria que todos eles fossem acessíveis, para que eu ou qualquer pessoa com deficiência pudesse escolher entre o “quero” ou “não quero”, e sair do “quero, mas não posso” “, afirma Renata. 

Renata Carvalho, turista cadeirante em atrativo do Jalapão

Campanha pela cadeira anfíbia

Henrique conta que essa experiência fortaleceu os princípios de cidadania da Jalapão Expedições, que pôde ampliar a compreensão de seu papel social: “No ecoturismo pensamos nos impactos negativos que nossa atividade pode gerar e em formas de reduzir esses impactos. Mas também pensamos em como maximizar os impactos positivos, tanto ambientais como sociais”. 

Pensando nisso, a agência de turismo decidiu adquirir uma cadeira anfíbia, um equipamento que permite o deslocamento facilitado tanto em água, quanto em terra, para pessoas com dificuldade de mobilidade. A princípio a ideia era uma compra particular, o que garantiria até mesmo um diferencial competitivo à agência. 

Cadeira anfíbia que será usada por turistas com deficiência no Jalapão

Contudo, ao analisar os custos envolvidos, a agência constatou que isso tornaria o Jalapão, que já não é um destino barato, ainda mais caro para as pessoas com deficiência. “Percebemos que incluir esta ferramenta – a cadeira anfíbia – como serviço particular, seria uma ação mais excludente que includente”, afirma Henrique. 

A solução, portanto, foi lançar uma campanha de financiamento coletivo para a compra da cadeira e deixá-la à disposição de todas as agências e guias de turismo gratuitamente. “Decidimos fazer a vakinha online para comprarmos a cadeira através de doações. Assim poderemos oferecê-la gratuitamente para os clientes do Jalapão ou de Palmas, e para as agências, mediante agendamento e termo de responsabilidade”, explica Henrique. 

 

Como contribuir

 A campanha Jalapão para Todos foi lançada há oito meses e tem como meta arrecadar 12 mil reais para a compra da cadeira anfíbia, própria para trilhas e água. Até agora foram arrecadados pouco mais de 6 mil e quinhentos reais, mas você pode ajudar a engordar essa vaquinha!

Clicando AQUI você pode contribuir usando seu cartão de crédito ou emitindo um boleto bancário, mas você também pode doar via PIX, com a chave: 2876517@vakinha.com.br

Vamos juntos fazer do Jalapão um lugar para todos!

 

 

 

 

Sair da versão mobile