Mesmo livre, Nina convivia há pelo menos quatro anos perto dos moradores, quilombolas e interagia com turistas. Artista Adrians Alves publicou pintura para externar indignação quanto à violência contra o animal.
Árvores ao redor e ao centro, uma arara-canindé, com toda a beleza de suas cores, sendo atingida por uma bala. A pintura revela uma imagem forte de dor e tristeza. Nesta terça-feira (4), ao ser publicada nas redes sociais, repercutiu entre os moradores do estado. É que o trabalho feito pelo artista visual, professor e publicitário, Adrians Alves, foi inspirado na morte da arara Nina, encontrada com marca de tiro na comunidade quilombola Carrapato, no Jalapão.
A comunidade do Jalapão está revoltados com a morte da ave. Mesmo livre, Nina convivia há pelo menos quatro anos perto dos moradores, quilombolas e sempre se aproximava dos turistas e até entrava nas residências.
A ave tinha sido vista pela última vez no domingo (2) e foi encontrada morta na manhã de segunda-feira (3) em plantação de frutas na comunidade quilombola.
Quando soube da morte, Adrians resolveu se manifestar fazendo arte. Pegou o papel e o lápis e desenhou em um papel a imagem de uma arara-canindé.
“Eu me embasei em imagens reais, abri fotos na internet para ver o formato, as cores, peguei as referências e desenhei no papel. Tirei foto e pintei no ipad usando aplicativos de pintura digital”, relatou.
O artista vive no Tocantins desde 1992, quando o estado ainda estava em construção. Com frequência, expõe nas redes sociais pinturas que confrontam e trazem reflexões para causas sociais.
“Eu sempre tive essa pegada ativista. Uso a minha arte para combater o preconceito, tento abrir os olhos das pessoas para causas ambientais, dos indígenas e das minorias. Desde quando cheguei no Tocantins, faço esse trabalho, às vezes não escrevo, faço uma arte, mas essa arte já diz muita coisa e forma camadas de narrativas muito grandes”, afirmou.
O artista conta que já esteve no Jalapão, mas não teve oportunidade de conhecer a Nina, embora se sentisse próxima da ave por conta das imagens compartilhadas por turistas e moradores.
“Eu me sentia próximo e achava um animal bem amistoso. Assim que eu postei, notei que foi uma imagem diferente. As pessoas criaram engajamento orgânico, de curtidas. Coloquei nos stories, teve muitos compartilhamentos. Vi que foi uma imagem pesada que sensibilizou. A situação é pesada e sensibiliza por si só. Mas, não fiz a arte em busca de like, fiz no intuito de externar a minha indignação com essa violência”.
Na publicação, ele escreveu “armas sendo armas”. A intenção do artista foi alertar. “Sou engajado nessa luta porque onde existem armas, existe violência”.
Investigação
Sobre a investigação sobre o caso, a Secretaria da Segurança Pública informou que as providências necessárias para elucidação dos fatos já estão sendo tomadas. A 80ª DP, que engloba as cidades de Novo Acordo e São Félix; e a 81ª DP, que engloba Ponte Alta, Pindorama e Mateiros, estão fazendo o levantamento das informações iniciais para subsidiar a instauração de inquérito.
Os trabalhos contam ainda com o apoio da 6ª Delegacia Regional de Porto e a 7ª Delegacia Especializada em Investigação Criminal também de Porto Nacional. O Delegado Regional Túlio Mota destacou a importância de que moradores da região colaborem com o caso, no que diz respeito ao compartilhamento de informações.
As denúncias poderão ser feitas a qualquer momento nas delegacias de Ponte Alta pelo telefone: (63) 3378-1400 e na unidade de plantão de Porto Nacional pelo telefone: (63) 3363-1664.
Morte da Nina
Um dia antes da morte um morador da região filmou uma arara-canindé e acredita ter sido Nina. Ela sobrevoava sobre o carro e em determinado momento pousou na janela do veículo. (assista acima)
A estudante Denisa Matos da Silva, de 16 anos, foi uma das pessoas que reconheceram a ave. Ela contou que sempre acordava com a arara entrando em seu quarto. No final da tarde de domingo, Nina chegou a deitar no colo do pai da adolescente. Pouco depois ela saiu voando e não foi mais vista.
O engenheiro ambiental Igor Tosello, que já esteve com Nina, explica que a criação de animais silvestes em cativeiro é crime, mas a ave escolheu viver perto dos humanos.
“A Nina nunca sofreu isso. Ela sempre foi uma ave extremamente livre, que optou morar na comunidade quilombola Carrapato. Ela pegou a Denisa como uma parceira. Ela acordava e dormia com ela, entrava pela janela. Todo psitacídeo pega um parceiro para a vida toda. Acredito que ela escolheu a Denisa. Ela fazia a alegria de todo mundo no Jalapão”, explicou.
(G1-TO)
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