Vozes preta e indígena abrem a palestra magna no palco Amazônia Futurista do MICBR

Ketty Valencio, Adriana Barbosa, Val Sawré e Daniel Munduruku conversaram sobre as dificuldades e possíveis soluções para uma economia criativa mais inclusiva

Foto: Thiago Gomes

Com o nome de Diversidade e Inclusão na Economia Criativa Brasileira: Desafios e Avanços, a palestra mediada pela cantora e apresentadora Larissa Luz, trouxe pontos-chave para uma melhor inclusão cultural, como a necessidade da permanência dos sistemas de cotas e a flexibilização de editais e abertura de CNPJs para MEIs indígenas. A atividade faz parte da programação do Mercado das Indústrias Criativas do Brasil (MICBR) 2023.

“A escassez nunca esteve na criatividade. A escassez está no acesso”. Com esse pensamento, a livreira Ketty Valencio apontou outro grande desafio de quem faz cultura no Brasil. Em suas colocações, a coordenadora da Livraria Africanidades ressaltou a falta de acesso aos conteúdos e produtos trazidos pela comunidade negra. “Eu vendo qualquer livro escrito por uma pessoa preta e muitas vezes percebo que esse escritor ainda não sabe os caminhos que precisa percorrer para ter seu livro publicado. Isso é escassez e é esse o ponto que precisamos resolver, facilitar esse acesso”.

Em concordância com Ketty, a indígena paraense Val Sawré destacou ainda as necessidades específicas dos povos indígenas para se fazer presentes no mercado criativo. “O acesso aos editais, às formas de comunicação, aos processos de regularização jurídica pro indígena precisam ser flexibilizados. Se o que se quer é promover realmente o acesso, não se pode cobrar de um indígena que ele possua um número MEI para entrar num edital porquê os povos indígenas possuem outra dinâmica, a região Oeste do Pará não é a mesma do resto do estado e isso precisa ser entendido e flexibilizado”, disse.

Val pontuou também a necessidade de olhar para a cultura indígena não apenas como consumo, mas reconhecer que são eles os responsáveis por mobilizar uma economia verde, a economia da floresta em pé. “A criatividade indígena está em todo lugar. Está na moda, na música, no audiovisual. O que nós precisamos é que isso chegue ao conhecimento de todos”.

Com mais de 60 livros publicados, o escritor e educador Daniel Munduruku também fez coro a necessidade real de maior visibilidade e acesso à produção indígena. “A literatura indígena é reconhecida por vários prêmios em todo o mundo. Nós estamos presentes como sempre estivemos. A nossa dificuldade é fazer esse livro chegar no leitor. É preciso divulgar mais, mas também é preciso fazer o trabalho de base com o professor, o bibliotecário, o diretor de escola, essas pessoas precisam conhecer o material que chega pra eles nas escolas e trabalhar nisso”, apontou.

Coordenadora da Feira Preta e PretaHub, a empreendedora Adriana Barbosa relembrou que todo o processo de transformação do Brasil sempre foi pela cultura e por isso não se pode esquecer que as grandes marcas e empresas querem se apropriar disso como produto do capital. “Houve um levante cultural que foi observado pelas empresas a partir do movimento de representatividade do negro na comunicação. Então, as grandes marcas passaram a olhar para nós, não por respeito à cultura, mas como uma fatia do mercado que precisava ser conquistada. Por isso a nossa grande questão hoje é como não transformar a nossa cultura em meramente produto”, finalizou.

As palestras magnas ocorrem diariamente, às 17h, no palco Amazônia Futurista. A próxima palestra será nesta sexta-feira, 10, com Hugo Barreto, Graciela Guarani e Sérgio de Carvalho, que falam sobre o tema “Amazônias, Tecnologias e Juventude: O Futuro que Queremos”.

No sábado, 11, sobem ao palco James Martins, Felipe Cordeiro, Djuena Tikuna e Jonathan Ferr para debater “Voz da Mudança: Música Parcialmente Brasileira x Música Popular Brasileira. O que é MPB?”

Realização

O MICBR é uma realização do MinC e OEI e conta com o patrocínio master da Vale e do Instituto Cultural Vale. Também apoiam a iniciativa o Sebrae, o YouTube, a Caixa Econômica Federal (CEF) e o Banco da Amazônia (Basa). A programação das palestras e oficinas é apresentada pela Vale e Instituto Cultural Vale, com apoio do British Council. A Apex-Brasil é parceira nas rodadas de negócios e atividades de formação de redes.

O Mercado das Indústrias Criativas é realizado, ainda, com apoio do Governo do Estado do Pará, por meio das Secretarias de Cultura e Turismo, e pela Prefeitura de Belém, por meio da Fundação Cultural de Belém e da Companhia de Desenvolvimento da Região Metropolitana.

Serviço
3º Mercado de Indústrias Criativas do Brasil (MICBR)
Quando: De 08 a 12 de novembro de 2023
Local: Hangar Convenções & Feiras da Amazônia
Av. Dr. Freitas, s/n – Marco – Belém (PA)
Entrada gratuita e aberta ao público.

 

Fonte: Assessoria de Imprensa | Ministério da Cultura

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