Karina Custódio
A cheia do rio Formoso inunda a aldeia Takaywra, localizada próxima ao município de Lagoa da Confusão, a comunidade já teve dezenas de casas parcialmente submersas, perdeu suas hortas e sofre com a entrada de jacarés e sucuris que vem comer as galinhas e porcos criados pelo Povo Panhí (Krahô).
O cacique José Valdete Krahô conta que a última visita da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) à comunidade foi a mais de um mês atrás e que a única ajuda recebida vem da Prefeitura Municipal que destina cestas básicas a aldeia, mesmo com o constante aumento do nível do rio a Defesa Civil não faz visitas ao Povo Panhí. Indignado o líder da aldeia manifesta sua decepção com as autoridades: “A nossa situação é espantosa, viver um mês, dois meses, dentro d’aguá não é coisa de se acreditar… O que estamos vivendo é esse descaso, não é só do pessoal do município, é o pessoal da FUNAI, não cuida, só tem promessa, só tem mentira, não faz nada”. O cacique também revela que pelo menos 10 indígenas tiveram que deixar a aldeia pois tem a saúde debilitada e podem piorar com o contato da água.
A reivindicação dos membros da aldeia é a titulação de uma área definitiva para seu Povo, que a mais de 40 anos foi expulso do seu território originário, e vive em uma Área de Preservação Permanente (APP). O espaço pertence ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) localizado numa zona de alagamento do Rio Araguaia. O vice cacique, Davi Krahô, dá detalhes da história de expulsão da sua terra “A terra onde meus avós moravam fica próxima desse local [da APP] uns 30 quilômetros, acabou que apareceu uns homens botou pressão, meus avós, meus tios saíram desse território. A gente perdeu nosso território em 1976, de lá pra cá a gente vem nesse processo de resgatar, de lutar por nossa terra”.
O encaminhamento da comunidade para a APP foi um erro da FUNAI que em 2006 regularizou a área da Reserva Indígena Mata Alagada para o Povo Kharô expulso numa proporção menor que a necessária para os mais de 220 indígenas. Assim, os membros da aldeia Takaiwará permaneceram sem território, a APP onde estão acampados desde 2006 passa por alagamentos anualmente e é uma terra onde eles são proibidos de plantar, o espaço deveria ser um local temporário até que a área definitiva fosse titulada. Mas o processo de titulação está parado uma vez que a FUNAI não deu andamento na aquisição de novas terras.
Em 2016 o Ministério Público do Tocantins entrou com uma Ação Civil Pública contra a União e a FUNAI, hoje o processo tramita no Tribunal Regional Federal e aldeia Takaywrá continua sem perspectiva de reaver seu território originário.
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